Carta argumentativa
Por: Daniela Diana / Professora licenciada em
Letras
A carta argumentativa é um tipo de texto que tem como
objeto principal persuadir o leitor.
Nesse sentido, a
argumentação é sua principal arma de convencimento, de forma que o emissor
(escritor), através do seu ponto de vista, tenta convencer o receptor (leitor)
sobre determinado assunto.
Trata-se, portanto,
de um texto dissertativo-argumentativo que possui peculiaridades em sua
produção, posto que apresenta um receptor ou receptores específicos para o qual
se dirige.
Assim, vale frisar
que a principal característica do gênero textual “carta” é justamente a
existência de um emissor (remetente) e de um receptor (destinatário).
A linguagem
utilizada pode ser formal ou informal, dependendo da relação entre os
interlocutores, por exemplo, um amigo (informal) e o prefeito (formal).
Embora a expansão
da Internet e dos meios de comunicação tenha criado outras formas de interação
(e-mail, redes sociais, etc.), a carta enviada pelo Correio ainda é um recurso
comunicativo muito importante.
Por esse motivo,
esteja atento a sua estrutura, pois esse tipo de texto pode ser exigido em
vestibulares e concursos públicos.
Características
As principais características da carta argumentativa são:
Persuasão e argumentação
Linguagem clara e objetiva
Geralmente escrita em 1ª pessoa
Presença de destinatário e remetente
Uso de pronomes de tratamento
Assinatura do escritor (locutor)
Estrutura
Embora seja um
texto dissertativo-argumentativo (com estrutura básica de introdução,
desenvolvimento e conclusão), a estrutura da carta argumentativa inclui ainda
outros momentos:
Local e Data: Primeiramente, surge
o nome da cidade (local) em que se encontra o emissor e a data que está sendo
produzida. Essa parte é também chamada de cabeçalho.
Nome do receptor: Abaixo da data e
do local, deverá surgir o nome da pessoa ou do órgão a quem se destina a carta.
Saudação Inicial: Dependendo da formalidade, utilizamos determinadas saudações iniciais (vocativos). Representam as formas de tratamento como: prezado (ou caro) senhor ou senhora, excelentíssimo, digníssimo, dentre outros.
Introdução: Na introdução, o
assunto a ser abordado durante todo o texto, ou seja, o tema principal da
carta.
Desenvolvimento: Já que se trata
de um texto argumentativo, nesse momento as argumentações e os pontos de vista
deverão ser explorados de forma a convencer o leitor.
Conclusão: Trata-se da parte
final do texto, que apresenta o arremate das ideias expostas na introdução e no
desenvolvimento. Em outras palavras, é a parte da síntese das ideias em que
aparece uma proposta, recomendação e/ou sugestão.
Despedida: É a saudação
final que colocará fim no seu texto, por exemplo, “atenciosamente”, se for
formal, ou “beijos e abraços”, de maneira informal.
Nome do Emissor: No final da
Carta, aparece o nome e assinatura de quem a produziu.
Exemplo
Como exemplos de
carta argumentativa, podemos citar as cartas de reclamações (que objetiva a
reclamação sobre algo, seja um serviço, um produto ou atitude) e solicitações
(solicitar soluções para determinado problema).
Para compreender
melhor sua estrutura e conceito, segue abaixo um exemplo de carta
argumentativa:
UM EXEMPLO DE CARTA
Leia agora uma carta
argumentativa baseada num tema proposto pela UEL em 2002. Preste muita atenção ao que foi pedido no enunciado e aos textos de
apoio (suprimiu-se, por questões de espaço, um trecho do texto b). Note que os
elementos da estrutura da carta foram respeitados pelo autor:
A partir da leitura
crítica dos textos de apoio, escreva uma carta dirigida a um jornal da cidade,
sugerindo medidas para conter a violência em Londrina.
a) A violência, quem diria, já não é o
que mais preocupa o brasileiro. Chegamos à era da selvageria.
(Marcelo Carneiro e
Ronaldo França)
Não é preciso ser
especialista em segurança pública para perceber que o crime atingiu níveis
insuportáveis.
Hoje, as vítimas da
violência têm a sensação quase de alívio quando, num assalto, perdem a carteira
ou o carro - e não a vida.
Essa espiral de
insegurança gerou uma variante ainda mais assustadora. É o crime com crueldade.
A morte trágica de Tim Lopes, o repórter da Rede Globo que realizava uma
reportagem sobre tráfico de drogas e exploração sexual de menores em um baile
funk numa favela da Zona Norte do Rio de Janeiro, é apenas o exemplo mais
recente de uma tragédia que se repete a toda hora. Desta vez, com uma questão
ainda mais aguda: por que um bandido precisa brutalizar as suas
vítimas?
O fato de as cenas
mais chocantes da brutalidade estarem quase sempre associadas a regiões pobres
das áreas metropolitanas das capitais brasileiras criou, em alguns
especialistas, a ideia de que boa parte dos problemas de segurança poderia ser
resolvida com investimentos maciços na área social. Trata-se de um equívoco.
Um levantamento do
jornal O Globo mostra que, desde 1995, a prefeitura do Rio já investiu quase 2
bilhões de reais em projetos de urbanização, saneamento e lazer em favelas.
Isso não impediu que, nos últimos dez anos, houvesse um crescimento de 41% no
número de mortes de jovens entre 15 a 24 anos, na maioria moradores de áreas
carentes.
O aumento da
criminalidade desafia qualquer lógica que vincule, de modo simplista,
indicadores sociais a baixos índices de violência. Desde a década de 80, quando
o tráfico de drogas passou a se estabelecer definitivamente nas principais
cidades brasileiras, os números relativos à educação, saúde e saneamento só
fazem melhorar no país.
O investimento dos
governos estaduais em segurança também é crescente. Só neste ano, o governador
paulista, Geraldo Alckmin, prometeu destinar 190 milhões de reais para o
combate à criminalidade, a construção de três penitenciárias e a aquisição de
novos veículos - um recorde.
"Vincular
violência somente a problemas sociais, por exemplo, é um erro. O crime
organizado e a brutalidade que ele gera são um fenômeno internacional",
diz a juíza aposentada Denise Frossard. Os códigos de crueldade das
organizações criminosas chinesas, com mutilações do globo ocular, ou da máfia
italiana, especializada em decepar a língua dos traidores, não diferem em nada
do "micro-ondas", criação dos traficantes cariocas para incinerar
seus inimigos.
As soluções para
tentar diminuir a espiral da brutalidade também podem ser encontradas no
exterior. Criado em 1993, o projeto de Tolerância Zero, da prefeitura de Nova
York, tinha desde o início o objetivo de combater os violentos crimes de
homicídio por tráfico de drogas. Descobriu-se que o furto de veículos, um crime
mais leve, tinha relação direta com os assassinatos.
Combatendo-se o
furto, caía também o número de mortes. Assim feito, ao mesmo tempo que uma
faxina nas delegacias eliminou centenas de policiais corruptos. São medidas
que, no Brasil, ainda estão no campo da discussão. Quando finalmente se decidir
pela ação, talvez já seja tarde. Por enquanto, a sociedade se pergunta,
perplexa, como pode uma parte dela comportar-se de modo tão bárbaro. (Veja,
jun. de 2002)
b)
Iniciativas contra sete gatilhos da violência urbana
É imprescindível
discutir a violência quando ocorre um homicídio por hora só na grande São
Paulo. A cifra prova que o poder público fracassou numa das principais
obrigações determinadas pela Constituição: garantir a segurança dos cidadãos.
Este artigo apresenta iniciativas que tentam minimizar algumas causas da
violência como as detalhadas no quadro abaixo. Elas atuam sobre sete fatores
que influem na criminalidade: desemprego, narcotráfico, urbanização, cidadania,
qualidade de vida, identidade e família.
Vigário Geral
Nome: Grupo Cultural Afro Reggae
Área de atuação: combate ao
narcotráfico e ao subemprego
Comunidades atendidas: Vigário geral,
Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas, Rio de Janeiro (RJ)
População atendida: 744 jovens e
adultos (números atuais)
Quando começou: 21 de janeiro de 1993
Quem financia: Fundação Ford (apoio
institucional)
Mais informações: site...
Jardim Ângela
Nome: Base Comunitária da Polícia
Militar
Área de atuação: policiamento e
atendimento social
Comunidades atendidas: Jardim Ângela
População atendida: 260 mil habitantes
Quando começou: 1998
Quem financia: Governo do Estado de São
Paulo
Mais informações: fone...
(...)
Exemplo de carta
Londrina, 10 de setembro de 2002.
Prezado editor,
O senhor e eu podemos
afirmar com segurança que a violência em Londrina atingiu proporções caóticas.
Para chegar a tal conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas. Basta
sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de "sorte" para constatarmos
pessoalmente a gravidade da situação. Mas não acredito que esse quadro seja
irremediável. Se as nossas autoridades seguirem alguns exemplos nacionais e
internacionais, tenho a certeza de que poderemos ter mais tranquilidade na
terceira cidade mais importante do Sul do país.
Um bom modelo de ação
a ser considerado é o adotado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi
criado, no início de 1993, o Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos
principais alvos são o tráfico de drogas e o subemprego, tem beneficiado cerca
de 750 jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as comunidades
de Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas.
Mas combater somente
o narcotráfico e o problema do desemprego não basta, como nos demonstra um
paradigma do exterior. Foi muito divulgado pela mídia - inclusive pelo seu
jornal, a Folha de Londrina - o projeto de Tolerância Zero, adotado pela
prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos.
Por meio desse plano,
foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao narcotráfico
(intenção inicial), seria mister combater outros crimes, não tão graves, mas
que também tinham relação direta com a incidência de assassinatos. A diminuição
do número de casos de furtos de veículos, por exemplo, teve repercussão
positiva na redução de homicídios.
Convenhamos, senhor
editor: faltam vontade e ação políticas. Já não é tempo de as nossas
autoridades se espelharem em bons modelos? As iniciativas mencionadas foram
somente duas de várias outras, em nosso e em outros países, que poderiam sanar
ou, pelo menos, mitigar o problema da violência em Londrina, que tem assustado
a todos.
Espero que o senhor
publique esta carta como forma de exteriorizar o protesto e as propostas deste
leitor, que, como todos os londrinenses, deseja viver tranquilamente em nossa
cidade.
Atenciosamente,
M.
Percebeu como a estrutura da carta é dissertativa? No primeiro parágrafo – releia e confira – é apresentada a tese a ser defendida (a de que a situação da violência é grave, mas não irremediável); nos dois parágrafos subsequentes (o desenvolvimento), são apresentadas, obedecendo ao que se pediu no enunciado, propostas para combater a violência na cidade de Londrina; e no último parágrafo, a conclusão, propõe-se que as autoridades sigam exemplos como os citados no desenvolvimento.
O leitor, o editor do
jornal, “apareceu” no texto, o que é muito positivo em se tratando de uma
carta. E, como não poderia deixar de ser, foram respeitados os elementos
pré-textuais (cabeçalho e vocativo) e pós-textuais (expressão introdutora de
assinatura e assinatura).
Fontes: