A relação entre um
substantivo (ou pronome ou numeral substantivo) e as palavras que a ele se
ligam para caracterizá-lo (artigos, adjetivos, numerais adjetivos) recebe o
nome de concordância nominal.
Para estudar como essa relação se estabelece, é necessário
lembrar que adjetivos e palavras de valor adjetivo podem atuar como adjuntos
adnominais ou predicativos dos substantivos a que se referem.
1. Quando atuam como adjuntos adnominais de um único
substantivo, os adjetivos concordam em gênero e número com esse substantivo:
Seus olhos escuros transmitem uma funda
inquietação.
2. Quando atuam como
adjuntos adnominais de dois ou mais substantivos, os adjetivos podem sempre
concordar com o mais próximo desses substantivos. Nos casos em que estão
pospostos aos substantivos, os adjetivos podem também concordar com todos eles:
Tratava-se de inoportuno
lugar e ocasião.
Tratava-se de lugar e
ocasião inoportuna.
Tratava-se de momento e
lugar inoportunos.
A forma adotada nesse
último exemplo é a mais clara, pois indica que o adjetivo efetivamente se
refere aos dois substantivos.
Observações:
a.
O adjetivo anteposto a nomes próprios deve sempre concordar no plural:
As
dedicadas Maria
e Joana participaram do concurso.
b.
Nos casos em que o adjetivo estabelece concordância com substantivos de gêneros
diferentes, deve assumir a forma do masculino plural:
Tratava-se de ocasião e
lugar inoportunos.
3.
Quando um adjetivo atua como predicativo de um sujeito simples ou de um objeto
simples, concorda com ele em gênero e número:
A situação é delicada.
As árvores velhas
continuam acolhedoras.
Considero encerrada a questão.
Considero solucionados
os problemas.
4. Quando um adjetivo atua como
predicativo de um sujeito ou de um objeto compostos, concorda com todos os
núcleos desses termos:
Pai e filho são talentosos.
Marido e mulher são bem-humorados.
Considero brilhantes o pai e o filho.
Julguei insensatas sua atitude e suas palavras.
São calamitosos a pobreza e o desamparo.
Se o predicativo do sujeito estiver anteposto ao sujeito, pode concordar apenas
com o núcleo mais próximo (coisa que acontece também com o verbo da oração):
É
calamitosa a pobreza e o
desamparo.
5. Quando um único substantivo é
modificado por dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as
construções:
Estudo a cultura
italiana e a francesa.
Estudos as
culturas italiana e
francesa.
A construção:
Estudo a cultura italiana e francesa.
Embora provoque incerteza (trata-se de
duas culturas distintas ou de uma única, ítalo-francesa?), é aceita por muitos
gramáticos.
6. No caso de numerais ordinais que se
referem a um único substantivo posposto, podem ser usadas
as construções:
Avisei todos os moradores do primeiro e
segundo andar.
ou
Avisei todos os moradores
do primeiro e segundo andares.
PALAVRAS E CONSTRUÇÕES QUE MERECEM DESTAQUE
1. Próprio, mesmo, anexo,
incluso, quite e obrigado concordam em gênero e número com o substantivo ou
pronome a que se referem:
Elas próprias disseram: – Nós mesmas
fizemos isso.
Seguem anexas as cópias solicitadas.
Seguem inclusos os documentos requeridos.
Não há mais nada a discutir:
estamos quites.
O rapaz agradeceu: – Muito obrigado.
Os aposentados disseram
ironicamente ao ministro: – Muito obrigados por tudo!
2. Meio e bastante podem atuar como adjetivos ou como advérbios. No primeiro caso, referem-se a substantivos e são variáveis. No segundo caso, referem-se a verbos, adjetivos ou advérbios e são invariáveis:
Pedi meia cerveja e meia
porção de batatas fritas.
Meia classe terá de permanecer após
o sinal de meio-dia e meia.
As jogadoras estavam meio
desgastadas.
Bastantes coisas estão erradas.
Eles se amam bastante. E são bastante loucos a ponto de
casar!
3. “Alerta” é advérbio, portanto não varia:
Soldados, fiquem alerta!
4. Quando desacompanhados de determinante (artigos, pronomes e numerais adjetivos), os substantivos podem ser tomados em sentido amplo. Nesse caso, expressões como é proibido, é bom, é preciso, é necessário e similares não variam.
Água é bom
para a saúde.
É proibido entrada.
Liberdade é
necessário.
É preciso
cidadania.
mas:
Esta
água da serra é muito boa para a saúde.
É proibida a entrada
de estranhos.
A liberdade de
expressão é necessária.
São precisas algumas
medidas de urgência.
"é proibido" "é proibida"
Uma pessoa vai a um edifício comercial, a um ambiente mais formal, e vê ali uma tabuleta:
Uma pessoa vai a um edifício comercial, a um ambiente mais formal, e vê ali uma tabuleta:
É proibido a entrada.
Pouco depois, ao entrar no prédio ao lado,
a pessoa depara-se com outra tabuleta:
É proibida a entrada.
Uma confusão, não é?
"Não é permitido a entrada" ou "Não é permitida a entrada"?
"É proibido
a entrada" ou "É proibida a entrada"?
Vamos a alguns exemplos para esclarecer
essa questão:
A sopa é boa.
Sopa é bom.
A cerveja é boa.
Cerveja é bom.
Cerveja é bom.
Quando se generaliza, quando não se
determina, não se faz a concordância; usa-se o masculino com valor genérico,
com valor neutro. Portanto:
Sopa é bom. / É bom sopa.
Cerveja é bom. / É bom cerveja.
Entrada é proibido. / É proibido entrada.
Entrada não é permitido. / Não é permitido entrada.
Cerveja é bom. / É bom cerveja.
Entrada é proibido. / É proibido entrada.
Entrada não é permitido. / Não é permitido entrada.
Se não existe um artigo ou uma preposição
antes de "entrada",
se não há nenhum determinante, o particípio passado dos verbos "proibir" e permitir" deve ficar no
masculino.
Mas, se houver algum determinante, o verbo
deve, então, concordar com a palavra "entrada". Veja as
formas corretas:
É proibido entrada.
É proibida a entrada.
Não é permitido entrada.
Não é permitida a entrada.
É proibida a entrada.
Não é permitido entrada.
Não é permitida a entrada.
"obrigado" e "eu mesmo"
"Eu mesma fiz essa
bolsa." Está correta essa construção? Sim, desde que esteja sendo
observado o sexo de quem fala.
Se é um homem quem fala, então este deve dizer "eu mesmo"; se é mulher, "eu mesma".
Você, referindo-se a uma mulher, deve dizer "você mesma", "ela mesma".
No plural e havendo pelo menos um homem, deve-se dizer "nós mesmos"; havendo só mulheres, "nós mesmas".
A concordância deve ser observada também
nas fórmulas de agradecimento. O homem diz "obrigado"; a mulher, "obrigada".
"meio" ou "meia"?
"Ela está meio cansada" ou "ela
está meia cansada"? A letra da música
"Aquilo", de Lulu Santos, nos dá uma dica:
Outra vez a mesma história
volta sempre a acontecer
vai passar de hora em hora
depois que ligarem a TV.
Vejo as sobras coloridas
sussurrando em sensurround
deslizando na avenida
meio alheio ao temporal.
Diz a letra: "...deslizando na
avenida meio alheio ao temporal...". Se fosse uma mulher, em vez de "alheio"
teríamos "alheia". Mas deveríamos também substituir a
palavra "meio" por "meia"?
Para fazer o teste, utilize "muito" no lugar de "meio":
Para fazer o teste, utilize "muito" no lugar de "meio":
Meio alheia --> muito alheia
Meio nervosa --> muito nervosa
Meio cansada --> muito cansada
Temos aqui uma palavra que modifica um
adjetivo: o advérbio.
Advérbios não variam.
É bom lembrar que em clássicos da
literatura brasileira há registros desse termo usado de forma flexionada.
Assim, há registros de "meios cansados", "meia
doce",
por exemplo. Na língua moderna, isso tende a não ocorrer em textos escritos. As
bancas que organizam os vestibulares das escolas mais importantes do Brasil
reconhecem "meio" como advérbio, ou seja, como palavra
invariável.
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