Leia a fábula do escritor francês Jean de La Fontaine (1612-1695)
O amor e a loucura
No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua infância eterna.
Mas por que o amor é cego?
Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou da visão.
Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. E diante de Júpiter, Nêmesis - a deusa da vingança - e de todos os juízes do Inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego.
Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em declarar a Loucura a servir de guia ao Amor.
(In: Flávio Moreira da Costa, org. Os melhores contos de loucura. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 17-8)
A fábula é um gênero textual que costuma apresentar, no final, uma moral, isto é, um ensinamento. Isso, entretanto não ocorre nessa fábula, mas podemos deduzir que o ensinamento é: o amor além de cego é guiado pela loucura.
O autor da fábula empregou as palavras "Amor" e "Loucura" com iniciais maiúsculas porque são personagens que atuam na história narrada, personificando, respectivamente, um sentimento e um estado. Como designam um ser em particular, são nomes próprios e devem ser empregados com letras maiúsculas.
Quando o narrador afirma que tudo no amor é mistério, as palavras empregadas para designá-lo são: flecha, aljava, chama e infância.
Para identificar os seres, nomear os objetos que nos cercam, designar sentimentos, ações, etc., necessitamos de certo tipo de palavras, como filho, flecha, amor, pancada, vingança, etc. essas palavras são denominadas substantivos.
Substantivos são palavras que designam seres - visíveis ou não, animados ou não - ações, estados, sentimentos, desejos, ideias.
Morfossintaxe: forma e função
Falar é uma atividade tão habitual, que raramente o usuário de uma língua se dá conta dos mecanismos que regem qualquer ato de fala.
Todos os falantes inconscientemente selecionam e combinam palavras de acordo com determinadas regras interiorizadas por aqueles que se utilizam da língua.
Ao selecionar as palavras, o falante, além de considerar o sentido, leva em conta a forma das palavras (artigo, substantivo, verbo, etc.) em virtude da função (sujeito, objeto direto, predicativo, etc.) que assumem na oração.
Observe a frase:
O Amor e a Loucura brincavam juntos.
Analisemos as combinações realizadas, isto é, sua estrutura sintática e as classes gramaticais que foram selecionadas para as combinações:
Função sintática:
Sujeito: O Amor e a Loucura
Predicado: brincavam juntos
Predicativo do sujeito: juntos
Adjuntos adnominais: O - a
Forma:
Artigos: O - a
Substantivos: Amor - Loucura
conjunção: e
Verbo: brincavam
Adjetivo: juntos
Num ato de fala, a seleção e a combinação ocorrem simultaneamente. Assim, ao estudar a forma e a função das palavras, não se pode desvincular o estudo de uma do estudo de outra, pois forma e função coexistem e seus papéis só se definem solidariamente.
De acordo com a forma que apresentam, as palavras classificam-se em: substantivos, adjetivos, numerais, artigos, pronomes, verbos, advérbios, preposições, conjunções e interjeições.
A parte da gramática que estuda a forma das palavras recebe o nome de morfologia.
A que estuda a função das palavras na oração recebe o nome de sintaxe.
Função sintática do substantivo
O substantivo figura na frase como núcleo das seguintes funções sintáticas: sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito e do objeto, complemento nominal, adjunto adverbial, agente da passiva, aposto e vocativo.
Observe a relação entre forma (classe gramatical) e função na análise dos substantivos dessa frase:
Recebemos a participação de seu casamento.
Função sintática:
Sujeito desinencial ou materialmente oculto: Nós
Predicado: Recebemos a participação de seu casamento.
Objeto direto: a participação
Adjunto adnominal: a
Núcleo do objeto direto: participação
Complemento nominal: de seu casamento
Núcleo do complemento nominal: casamento
Forma:
Verbo transitivo direto: Recebemos
artigo: a
Substantivo: participação
preposição: de
pronome possessivo: seu
substantivo: casamento
O substantivo pode, precedido de preposição, formar uma locução adjetiva, que funciona como adjunto adnominal. Observe:
Demonstra por mim um amor de mãe.
Função sintática:
Objeto direto: um amor de mãe
Núcleo do objeto direto: amor
Adjuntos adnominais: um - de mãe
Forma:
Verbo transitivo direto: Demonstra
Preposição: por
Pronome do caso oblíquo: mim
Artigo: um
Substantivo: amor
Locução adjetiva: de mãe (= preposição "de" + substantivo "mãe"
Locução adjetiva: conjunto de palavras que equivalem a um só vocábulo, por terem significado, conjunto próprio e função gramatical única (p.ex., a de adjetivo, donde locução adjetiva).
(Fonte: dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.)
Classificação do substantivo
Os substantivos classificam-se em:
comuns: referem-se a qualquer ser de uma espécie, sem particularizá-lo: caneta, mesa.
próprios: nomeiam um ser em particular, destacando-o dentro da espécie ou do grupo; são grafados com letras maiúsculas: Sorocaba, José.
concretos: nomeiam seres com existência própria, isto é, que não dependem de outro ser para existir: caderno, computador.
abstratos: nomeiam ações, qualidades, sentimentos, isto é, seres que só existem em outros ou a partir da existência de outros seres: tristeza, amor, riqueza.
coletivos: designam uma pluralidade de seres da mesma espécie: constelação, resma.
Classificação do substantivo quanto à formação
Quanto à formação, os substantivos classificam-se em:
primitivos: são aqueles que dão origem a outras palavras: ferro, folha.
derivados: são os que se originam de outras palavras: ferreiro, folhagem.
simples: são os formados por apenas uma palavra: roupa, flor.
compostos: são os formados por mais de uma palavra: guarda-roupa, couve-flor.
Sexo é gênero
Não se deve confundir sexo com gênero, pelas seguintes razões:
O gênero diz respeito a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram a seres animais providos de sexo, quer designem apenas "coisa". o lápis, a borracha; o coelho, a galinha.
Mesmo substantivos referentes a animais ou pessoas apresentam, muitas vezes, discrepância entre gênero e sexo: cobra é sempre feminino; cônjuge é sempre masculino.
O gênero dos substantivos é um princípio puramente linguístico, convencional.
Gênero do substantivo
A flexão de gênero é uma só, com pouquíssimas variações: forma-se o feminino pela troca das vogais o e e por a ou pelo acréscimo da desinência -a:
menino - menina
mestre - mestra
professor - professora
Exceções: avô - avó; órfão - órfã; leão - leoa; valentão - valentona.
Plural dos substantivos compostos
Pluralizam-se as palavras variáveis (substantivo e adjetivo) e não se pluralizam as invariáveis (verbos, advérbios e interjeições) que compõem o substantivo composto:
tenentes-coronéis; pequenos-burgueses; guarda-roupas
Pode-se pluralizar apenas o primeiro substantivo se o segundo funcionar como especificador, com ou sem auxílio de preposição:
pés-de-meia; pombos-correio
Nos compostos formados por palavras repetidas ou onomatopeias, pluraliza-se o segundo elemento:
corre-corres; tico-ticos
Não se pluraliza o adjetivo contraído grã(o):
grão-duques; grã-cruzes
Nos nomes dos dias da semana pluralizam-se os dois elementos:
quartas-feiras; sextas-feiras
Número do substantivo simples
O plural dos substantivos simples se faz pelo acréscimo da desinência -s:
peixe - peixes
Há, entretanto, alguns substantivos simples que fazem o plural acrescentando-se -es.
açúcar - açúcares; mês - meses; vez - vezes
Os substantivos terminados em -l fazem geralmente o plural substituindo-se o -l por -is:
canal - canais; lençol - lençóis
Grau do substantivo ou derivação?
Há uma polêmica entre os pesquisadores sobre o grau do substantivo. Alguns consideram os aumentativos e diminutivos uma flexão do substantivo. Outros, entretanto, como Joaquim Mattoso Câmara Jr., consideram o aumentativo e o diminutivo como uma derivação.
Nos substantivos, a ideia de aumento ou diminuição das proporções se expressa por meio de adjetivos ou de sufixos:
homem grande (enorme, imenso) = homenzarrão
homem pequeno (miúdo) = homenzinho
As ideias de grandeza e pequenez emprestam às vezes aos seus substantivos um valor pejorativo ou depreciativo: cabeçorra, politicão, livreco; outras vezes, simpatia, afeição: filhinha, benzinho.
Fonte: Português - Linguagens - Ensino Médio - volume 2.
William Roberto Cereja & Thereza cochar Magalhães.
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