quarta-feira, 3 de abril de 2019

Curiosidades Literárias


  Literatura dos Povos Indígenas
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A literatura indígena é marcada pela tradição de uma narrativa com fortes traços da oralidade, ampliada por sistemas de representação por meio dos grafismos, que constituem uma narrativa outra, que difere do conceito estrito da palavra impressa.  Os grafismos indígenas são narrativas de histórias e informações com uma linguagem e leitura própria, portanto devem ser valorizados na sua especificidade.
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Cada povo indígena tem sua própria maneira de interpretar suas pinturas e grafismos, um exemplo disso, é o povo Kaingáng que usa essas pinturas nas cerimônias e rituais, nas comemorações de casamentos e também no ritual dos mortos. Esse povo usa o grafismo dividindo –o em duas grandes famílias ou metades, e estas marcas são chamadas de Rá, o Rá Téj que pertence à noite e à lua; e o Rá Ror que pertence ao sol ou dia; esses grafismos definem  a metade tribal à que o indígena, animais, plantas e objetos pertencem.


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Houve uma abertura de mercado para a literatura de origem indígena a partir dos anos 1990. Indígenas perceberam quando esta demanda começou e passaram a propor textos para as editoras comerciais. Antes disso – e até os dias de hoje – muitos livros foram publicados por instituições de apoio à causa indígena e por  não terem objetivos comerciais  ficam invisíveis. A novidade para essas leituras  era  escrever textos que tivessem um cunho educativo.A literatura dos povos indígenas é muito usada na contação de história, por quem as lê, pois elas trazem uma teia de possibilidades de gerar imagens, gestos, cores, magias, sons. Essas narrativas são  muito ricas em detalhes e em imaginação aproximando o universo indígena do não-indígena usando esse material como apoio pedagógico .



Confira uma seleção de obras escritas por autores índios e não índio


Eis aqui alguns exemplos :

A Terra sem Males: Mito guarani
O mito guarani de A Terra sem Males é o foco desta obra direcionada para o público infanto  juvenil. 
À simplicidade da narrativa somam-se a complexidade do mito e sua relevância 
na cultura guarani. O leitor 
não índio, possivelmente, construirá um diálogo de parte do mito com a narrativa bíblica do Dilúvio, mas a narrativa abre as portas para uma discussão sobre as especificidades 
da cultura desse povo. Informações que seguem 
a narrativa são acompanhadas por grafismos geométricos, 
que dialogam com formas de expressões indígenas. Questões diversas, como 
a história dos guarani, 
a resistência e diversidade indígena no Brasil, as migrações e a demarcação das terras podem ser aprofundadas, servindo como propostas 
para pesquisa.
A Terra sem Males: Mito guarani. São Paulo, Jakson de Alencar, Paulus, 2009 (Coleção Mistura Brasileira)
A Terra dos Mil Povos: História indígena do Brasil contada por um índio

Este foi o primeiro livro escrito por um autor indígena brasileiro que li e a obra me apresentou novas possibilidades de ver os índios na história e na literatura. 
O texto mostra o poder da palavra na tradição ancestral indígena, aponta a pluralidade de etnias, conta como os povos nativos leem o mundo, constroem suas identidades e suas relações com os não índios, revelam respeito pelo poder criador e pela terra. O livro é um relato individual e ancestral, mas muito mais que isso: trata-se de um convite para conhecermos a história tribal brasileira, a contribuição e presença dos povos indígenas no Brasil de hoje.
A Terra dos Mil Povos: História indígena do Brasil contada por um índio, de Kaka Werá Jecupé. São Paulo: Peirópolis, 1998 (Série Educação para a Paz)  
Câmera na Mão, o Guarani no Coração

Ler O Guarani, de José de Alencar, constitui desafio para muitos jovens. Contudo, o texto de Scliar pode promover o interesse pela leitura da obra de Alencar. Em uma linguagem contemporânea, o narrador conta, em primeira pessoa, como foi motivado à leitura de 
O Guarani para produzir um filme e concorrer a um prêmio. O que o leitor acompanha, porém, é a trajetória do personagem que vai aos poucos se transformando em leitor, não só de livros, mas de discursos, estereótipos, realidades sociais e contextos culturais. O personagem e seus amigos leem 
O Guarani e o leitor também 
o faz, enquanto todos aprendem a apreciar criticamente a construção do índio pela literatura 
do século XIX.
Câmera na Mão, o Guarani no Coração, de Moacyr Scliar. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2008 
Kurumi Guaré no Coração da Amazônia

De autor amazonense, a obra narra aventuras infantis e descreve o povo maraguá. Além de acompanhar registros da memória do narrador, uma auto e cosmorrepresentação, e ensinamentos dos povos da floresta, o leitor pode observar a composição multimodal do texto e os símbolos maraguá. Grafismos indígenas constituem uma poética que traduz uma vontade política de expressão de identidade, contam histórias complementares e podem sinalizar a origem do texto na tradição ancestral. A compreensão da obra envolve uma leitura dos símbolos maraguá, do Glossário Nheengatú e de termos regionais amazônicos. Há um enredo nos desenhos da obra de Yamã que lança o leitor para uma rede de significados construídos na interação entre palavra e imagem.
Kurumi Guaré no Coração da Amazônia, de Yaguarê Yamã. São Paulo: FTD, 2007
Sepé Tiaraju: Romance dos Sete Povos das Missões

Há obras que buscam reconstruir, pela ficção, figuras indígenas heroicas. 
É o caso do romance que, narrado pela perspectiva 
de um jesuíta, em um vaivém da memória, destaca a resistência dos Sete Povos das Missões (RS) e de um dos líderes e guerreiros indígenas do Sul do Brasil, Sepé Tiaraju. No texto, Tiaraju é apresentado pela visão do colonizador, Michael, ou Padre Miguel. Seu olhar constrói o herói indígena e a história da colonização dos povos indígenas pela missão catequizadora dos jesuítas 
e pela política europeia. Documentos históricos, como os tratados de Tordesilhas e de Madrid, além de conflitos e migrações indígenas formam o contexto da obra.
Sepé Tiaraju: Romance dos Sete Povos das Missões, de Alcy Cheuiche. Porto Alegre: AGE, 2012 
O Karaíba: Uma história do pré-Brasil

No romance O Karaíba, Munduruku narra, em linguagem poética, a história de povos que viviam numa terra ainda não chamada Brasil, numa época na qual os índios não eram assim chamados. Não haviam sido colonizados, mas antecipavam mudanças vindas do contato com europeus. O texto nos apresenta essa terra como um personagem com um passado, com povos que vivem à sombra de uma profecia anunciada pelo velho Karaíba, de que 
“um grande monstro” viria 
e destruiria tudo. A obra preenche uma lacuna histórica e literária e apresenta costumes, crenças e leituras do mundo pela visão cultural indígena. Assim, constrói vozes para povos que não tiveram 
sua palavra registrada e enfrentaram a crueldade 
da colonização europeia 
e da escravidão.
O Karaíba: Uma história do pré-Brasil, de Daniel Munduruku. Barueri, SP.: Manole, 2010
Amazonas: Pátria da água = Water Heartland

Com prosa e poesia, Thiago de Mello traça sua gênese e conduz os leitores em uma viagem pela extensão do Rio Amazonas, percorrendo sua história e dos homens que nele navegaram: os índios que chegaram à Amazônia, as icamiabas, 
os exploradores e cronistas europeus e o poeta. Nesta edição bilíngue, que conta com as encantadoras fotografias de Luiz Cláudio Marigo, o poeta descreve com suavidade a beleza 
e a tristeza das águas, da floresta, das plantas e dos animais da Amazônia e trata de seus espíritos protetores, que tentam defender a floresta da ganância, do lucro, da caça predatória. 
O poeta retrata os cantos dos índios, suas angústias 
e sofrimentos, mas anuncia a esperança de que a vida ainda pode ser salva.
Amazonas: Pátria da água = Water Heartland. Textos e poemas, Thiago de Mello.  SP:  Boccato, 2007
Maíra

O entrelaçamento das culturas indígenas e europeias nunca esteve tão em evidência quanto neste romance de Darcy Ribeiro. Nele, o autor emprega seus conhecimentos para criar uma obra com esferas culturais e vozes narrativas que se cruzam: dos índios, dos não índios e dos seres sobrenaturais ou demiurgos. O texto revela o encontro de cosmogonias e o entrelugar cultural de Avá/Isaías, um índio mairum que se torna sacerdote cristão, 
e Alma, jovem carioca que vive com os índios. 
A história tem início com uma investigação policial, mas conduz à investigação das identidades culturais brasileiras, em uma narrativa cuja confluência de discursos é projetada 
no capítulo final. Vale a pena ler esta obra para apreciar seu caráter multicultural e literário.
Maíra, de Darcy Ribeiro. São Paulo: Global, 2014


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