quarta-feira, 2 de agosto de 2017




CONCORDÂNCIA NOMINAL



A relação entre um substantivo (ou pronome ou numeral substantivo) e as palavras que a ele se ligam para caracterizá-lo (artigos, adjetivos, numerais adjetivos) recebe o nome de concordância nominal.

Para estudar como essa relação se estabelece, é necessário lembrar que adjetivos e palavras de valor adjetivo podem atuar como adjuntos adnominais ou predicativos dos substantivos a que se referem.

1. Quando atuam como adjuntos adnominais de um único substantivo, os adjetivos concordam em gênero e número com esse substantivo:
Seus olhos escuros transmitem uma funda inquietação.

2. Quando atuam como adjuntos adnominais de dois ou mais substantivos, os adjetivos podem sempre concordar com o mais próximo desses substantivos. Nos casos em que estão pospostos aos substantivos, os adjetivos podem também concordar com todos eles:

Tratava-se de inoportuno lugar e ocasião.
Tratava-se de lugar e ocasião inoportuna.
Tratava-se de momento e lugar inoportunos.

A forma adotada nesse último exemplo é a mais clara, pois indica que o adjetivo efetivamente se refere aos dois substantivos.
Observações:

a. O adjetivo anteposto a nomes próprios deve sempre concordar no plural:

As dedicadas Maria e Joana participaram do concurso.

b. Nos casos em que o adjetivo estabelece concordância com substantivos de gêneros diferentes, deve assumir a forma do masculino plural:
Tratava-se de ocasião e lugar inoportunos.

3. Quando um adjetivo atua como predicativo de um sujeito simples ou de um objeto simples, concorda com ele em gênero e número:

A situação é delicada.
As árvores velhas continuam acolhedoras.
Considero encerrada a questão.
Considero solucionados os problemas. 

4. Quando um adjetivo atua como predicativo de um sujeito ou de um objeto compostos, concorda com todos os núcleos desses termos:

Pai e filho são talentosos.
Marido e mulher são bem-humorados.
Considero brilhantes o pai e o filho.
Julguei insensatas sua atitude e suas palavras.
São calamitosos a pobreza e o desamparo.

Se o predicativo do sujeito estiver anteposto ao sujeito, pode concordar apenas com o núcleo mais próximo (coisa que acontece também com o verbo da oração):

É calamitosa a pobreza e o desamparo.

5. Quando um único substantivo é modificado por dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as construções:

Estudo a cultura italiana e a francesa.
Estudos as culturas italiana e francesa.

A construção:
Estudo a cultura italiana e francesa.

Embora provoque incerteza (trata-se de duas culturas distintas ou de uma única, ítalo-francesa?), é aceita por muitos gramáticos.

6. No caso de numerais ordinais que se referem a um único substantivo posposto, podem ser usadas as construções:

Avisei todos os moradores do primeiro e segundo andar.
ou
Avisei todos os moradores do primeiro e segundo andares.


PALAVRAS E CONSTRUÇÕES QUE MERECEM DESTAQUE

1. Próprio, mesmo, anexo, incluso, quite e obrigado concordam em gênero e número com o substantivo ou pronome a que se referem:

Elas próprias disseram: – Nós mesmas fizemos isso.
Seguem anexas as cópias solicitadas.
Seguem inclusos os documentos requeridos.
Não há mais nada a discutir: estamos quites.
O rapaz agradeceu: – Muito obrigado.
Os aposentados disseram ironicamente ao ministro: – Muito obrigados por tudo!


2. Meio e bastante podem atuar como adjetivos ou como advérbios. No primeiro caso, referem-se a substantivos e são variáveis. No segundo caso, referem-se a verbos, adjetivos ou advérbios e são invariáveis:

Pedi meia cerveja e meia porção de batatas fritas.
Meia classe terá de permanecer após o sinal de meio-dia e meia.

As jogadoras estavam meio desgastadas.
Bastantes coisas estão erradas.

Eles se amam bastante. E são bastante loucos a ponto de casar!


3. “Alerta” é advérbio, portanto não varia:
Soldados, fiquem alerta!


4. Quando desacompanhados de determinante (artigos, pronomes e numerais adjetivos), os substantivos podem ser tomados em sentido amplo. Nesse caso, expressões como é proibido, é bom, é preciso, é necessário e similares não variam.

Água é bom para a saúde.
É proibido entrada.
Liberdade é necessário.
É preciso cidadania.

mas:

Esta água da serra é muito boa para a saúde.
É proibida a entrada de estranhos.
A liberdade de expressão é necessária.
São precisas algumas medidas de urgência.

"é proibido" "é proibida"

Uma pessoa vai a um edifício comercial, a um ambiente mais formal, e vê ali uma tabuleta:

É proibido a entrada.

Pouco depois, ao entrar no prédio ao lado, a pessoa depara-se com outra tabuleta:

É proibida a entrada.

Uma confusão, não é?

"Não é permitido a entrada" ou "Não é permitida a entrada"?

"É proibido a entrada" ou "É proibida a entrada"?

Vamos a alguns exemplos para esclarecer essa questão:

A sopa é boa.
Sopa é bom.

A cerveja é boa.
Cerveja é bom.

Quando se generaliza, quando não se determina, não se faz a concordância; usa-se o masculino com valor genérico, com valor neutro. Portanto:

Sopa é bom. / É bom sopa.
Cerveja é bom. / É bom cerveja.
Entrada é proibido. / É proibido entrada.
Entrada não é permitido. / Não é permitido entrada.

Se não existe um artigo ou uma preposição antes de "entrada", se não há nenhum determinante, o particípio passado dos verbos "proibir" e permitir" deve ficar no masculino.

Mas, se houver algum determinante, o verbo deve, então, concordar com a palavra "entrada". Veja as formas corretas:

É proibido entrada.
É
proibida a entrada.
Não é permitido entrada.
Não é
permitida a entrada.

"obrigado" e "eu mesmo"

"Eu mesma fiz essa bolsa." Está correta essa construção? Sim, desde que esteja sendo observado o sexo de quem fala.

Se é um homem quem fala, então este deve dizer "eu mesmo"; se é mulher, "eu mesma".

Você, referindo-se a uma mulher, deve dizer "você mesma", "ela mesma".

No plural e havendo pelo menos um homem, deve-se dizer "nós mesmos"; havendo só mulheres, "nós mesmas".

A concordância deve ser observada também nas fórmulas de agradecimento. O homem diz "obrigado"; a mulher, "obrigada".

"meio" ou "meia"?

"Ela está meio cansada" ou "ela está meia cansada"? A letra da música "Aquilo", de Lulu Santos, nos dá uma dica:

Outra vez a mesma história
volta sempre a acontecer
vai passar de hora em hora
depois que ligarem a TV.
Vejo as sobras coloridas
sussurrando em sensurround
deslizando na avenida
meio alheio ao temporal.

Diz a letra: "...deslizando na avenida meio alheio ao temporal...". Se fosse uma mulher, em vez de "alheio" teríamos "alheia". Mas deveríamos também substituir a palavra "meio" por "meia"?


Para fazer o teste, utilize "muito" no lugar de "meio":

Meio alheia --> muito alheia
Meio nervosa --> muito nervosa
Meio cansada --> muito cansada
Temos aqui uma palavra que modifica um adjetivo: o advérbio.

Advérbios não variam.


É bom lembrar que em clássicos da literatura brasileira há registros desse termo usado de forma flexionada. Assim, há registros de "meios cansados", "meia doce", por exemplo. Na língua moderna, isso tende a não ocorrer em textos escritos. As bancas que organizam os vestibulares das escolas mais importantes do Brasil reconhecem "meio" como advérbio, ou seja, como palavra invariável.

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