PROBLEMAS GERAIS DA LÍNGUA CULTA
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
(Odes de Ricardo Reis – heterônimo de Fernando Pessoa)
Este
capítulo pretende oferecer a você orientações sobre aspectos gerais da língua
portuguesa culta. Consiste, portanto, numa oportunidade de aperfeiçoar seu
desempenho no que diz respeito à grafia e ao emprego apropriado de formas e
expressões que costumeiramente causam problemas a quem pretende falar ou
redigir português culto.
Acreditamos
que muitas coisas que veremos a seguir já foram estudadas em sua vida escolar
anterior. Nesses casos, aproveite o que vamos dizer para avaliar seu
conhecimento. É importante que você definitivamente incorpore tais detalhes ao
seu manuseio escrito (e falado, nas situações apropriadas) da língua
portuguesa.
FORMA E GRAFIA DE ALGUMAS PALAVRAS E EXPRESSÕES
Que e
quê
Que é pronome,
conjunção, advérbio ou partícula expletiva. Por se tratar de monossílabo átono,
não é acentuado:
(O)
Que você pretende?
Você
me pergunta (o) que farei. (O) Que posso fazer?
Que beleza! Que bela atitude!
Convém
que o assunto seja discutido
seriamente.
Quase
que me esqueço de avisá-lo.
Quê representa
um monossílabo tônico. Isso ocorre quando um pronome se encontra em final de
frase, imediatamente antes de um ponto (final, de interrogação ou exclamação)
ou de reticências, ou quando quê é
um substantivo (com o sentido de “alguma coisa”) ou uma interjeição (indicando
surpresa, espanto):
Afinal,
você veio aqui fazer o quê?
Você
precisa de quê?
Há
um quê inexplicável em sua atitude.
Quê! Conseguiu chegar a tempo?!
Por que, por quê, porque, porquê
A forma por que
é a sequência de uma preposição (por)
e um pronome interrogativo (que). É
uma expressão equivalente a por qual
razão, por qual motivo:
Por que você pensa assim?
(Interrogativa direta)
Preciso
saber por que você pensa assim. (Interrogativa
indireta)
Não
sei por que você pensa isso.
Não
deixe de ler a matéria intitulada “Por que os corruptos não vão para a cadeia”.
É impressionante!
Caso surja no final de uma frase, imediatamente antes de
um ponto (final, de interrogação, de exclamação) ou de reticências, a sequência
deve ser grafada por quê, pois o
monossílabo que passa a ser tônico:
_
Ainda não terminou? Por quê?
_
Você tem coragem de perguntar por quê?
Há casos em que por que representa a sequência preposição
mais pronome relativo, equivalendo a pelo
qual (ou alguma de suas flexões: pela
qual, pelos quais, pelas quais). Em outros contextos por que equivale a para que.
Estas
são as reivindicações por que
estamos lutando. (= pelas quais)
O
túnel por que deveríamos passar
desabou ontem. (= pelo qual)
Lutamos
por que um dia este país seja
melhor. (= para que)
Já a forma porque
é uma conjunção, equivalendo a pois,
já que, uma vez que, como:
A
situação agravou-se porque muita
gente se omitiu.
Sei
que há algo errado porque ninguém
apareceu até agora.
Continuas
implicando comigo! É porque discordo
de ti?
Porque também pode indicar finalidade, equivalendo a para que, a fim de. Trata-se de um uso pouco frequente na língua atual:
Não
julgues porque não te julguem.
A forma porquê
representa um substantivo. Significa causa,
razão, motivo e normalmente surge acompanhada de palavra determinante (um
artigo, por exemplo). Como é um substantivo, pode ser pluralizado sem qualquer
problema:
Não
é fácil encontrar o porquê de toda
essa confusão.
Creio
que os verdadeiros porquês não
vieram à luz.
Onde e aonde
A tendência no português atual é considerar a seguinte
distinção: aonde indica ideia de
movimento ou aproximação, opondo-se a donde,
que exprime afastamento. Costuma referir-se a verbos de movimento:
Aonde você vai?
Aonde querem chegar com essas atitudes?
Aonde devo dirigir-me para obter
esclarecimentos?
Não
sei aonde ir.
Onde indica o lugar em que se está ou
em que se passa algum fato. Normalmente, refere-se a verbos que exprimem estado
ou permanência:
Onde você está?
Onde você vai ficar nas próximas
férias?
Não
sei onde começar a procura.
Mas e
mais
Mas é uma conjunção adversativa,
equivalendo a porém, contudo, entretanto:
Não
conseguiu, mas tentou.
Mais é pronome
ou advérbio de intensidade, opondo-se normalmente a menos:
Ele
foi quem mais tentou; ainda assim,
não conseguiu.
É
um dos países mais miseráveis do
planeta.
Mal e mau
Mal pode ser
advérbio ou substantivo. Como advérbio, significa “irregularmente”,
“erradamente”, “de forma inconveniente ou desagradável”. Opõe-se a bem:
Era
previsível que ele se comportaria mal.
Era evidente que ele estava mal-intencionado
porque suas intenções haviam repercutido mal
na reunião anterior.
Como substantivo, mal
pode significar “doença”; “moléstia”, em alguns casos significa “aquilo que é
prejudicial ou nocivo”.
A
febre amarela é um mal que atormenta
as populações pobres.
O
mal é que não se toma nenhuma
atitude definitiva.
O substantivo mal
também pode designar um conceito moral, ligado à ideia de maldade; nesse
sentido, a palavra também se opõe a bem:
Há
uma frase de que a visão da realidade nos faz muitas vezes duvidar: “O mal não compensa.”
Mau é
adjetivo. Significa “ruim”, “de má índole”, “de má qualidade”. Opõe-se a bom e apresenta a forma feminina má:
Não
é mau sujeito.
Trata-se
de um mau administrador.
Tem
um coração de mau.
OBS.: É muito
fácil empregar corretamente as palavras mal
e mau: basta você substituir por bem ou bom. Se for possível substituir por bem, empregue mal; se
for possível substituir por bom,
empregue mau.
A par e ao par
A par tem o
sentido de “bem-informado”, “ciente”:
Mantenha-se
a par de tudo o que acontecer.
É
importante manter-se a par das
decisões parlamentares.
Ao par é uma
expressão usada para indicar relação de equivalência ou igualdade entre valores
financeiros (geralmente em operações cambiais):
As
moedas fortes mantêm o câmbio praticamente ao
par.
Ao encontro de e de encontro a
Ao encontro de
indica “ser favorável a”, “aproximar-se de”:
Ainda
bem que sua posição veio ao encontro da
minha.
Quando
a viu, foi ao seu encontro e
abraçou-a.
De encontro a indica oposição, choque,
colisão. Veja:
Suas
opiniões sempre vieram de encontro às
minhas; pertencemos a mundos diferentes.
O
caminhão foi de encontro ao muro,
derrubando-o.
A e há na expressão de tempo
O
verbo haver é usado em expressões
que indicam tempo já transcorrido:
Tais fatos aconteceram há dez anos. (Nesse sentido é
equivalente ao verbo fazer: Tudo
aconteceu faz dez anos).
A
preposição a surge em expressões em
que a substituição pelo verbo fazer
é impossível:
O
lançamento do satélite ocorrerá daqui a
duas semanas.
Partiriam
dali a duas horas.
Acerca de e há cerca de
Acerca de significa “sobre”, “a
respeito de”:
Haverá
uma palestra acerca das
consequências das queimadas.”
Há cerca de indica um período
aproximado de tempo já transcorrido:
Os
primeiros colonizadores surgiram há
cerca de quinhentos anos.
Afim e a fim
Afim é um adjetivo
que significa “igual”, “semelhante”. Relaciona-se com a ideia de afinidade:
Tiveram
ideias afins durante o trabalho.
São
espíritos afins.
A fim surge na locução a fim de, que significa “para” e indica
ideia de finalidade:
Trouxe
algumas flores a fim de nos agradar.
Demais e de mais
Demais pode
ser advérbio de intensidade, com o sentido de “muito”; aparece intensificando
verbos, adjetivos ou outros advérbios:
Aborreceram-nos
demais: isso nos deixou indignados demais.
Estou
até bem demais!
Demais também
pode ser pronome indefinido, equivalendo a “outros”, “restantes”:
Não
coma todo o pudim! Deixe um pouco para os demais.
De mais opõe-se a de
menos. Refere-se sempre a um substantivo ou pronome:
Não
vejo nada de mais em sua atitude!
O
concurso foi suspenso porque surgiram candidatos de mais.
Senão e se não
Senão equivale a “caso contrário” ou “a
não ser”:
É
bom que ele colabore, senão não
haverá como ajudá-lo.
Não
fazia coisa alguma, senão criticar.
Se não surge
em orações condicionais. Equivale a “caso não”:
Se não houver aula, iremos ao cinema.
Na medida em que e à medida que
Na medida em que
exprime relação de causa e equivale a “porque”, “já que”, “uma vez que”:
Na medida em que os projetos foram
abandonados, a população carente ficou entregue à própria sorte.
À medida que indica proporção,
desenvolvimento simultâneo e gradual. Equivale a “à proporção que”:
A
ansiedade aumentava à medida que o
prazo ia chegando ao fim.
OBS.:Antes de fazer os exercícios, leia a teoria atentamente.
Depois tente resolvê-los sem consultar. Caso você não consiga,
releia a teoria até entendê-la. Não decore, aprenda!
Preencha as lacunas das frases seguintes com as formas entre parênteses.
a) Tenho muito
o....................fazer. (que / quê)
b) É preciso
um....................de louco para poder fazer isso. (que / quê)
c) Estamos rindo sem ter
de.................... . (que / quê)
d) ....................você quer
saber? É....................sua curiosidade é maior que sua inteligência? (por
que / porque / por quê / porquê)
e) Você quer
saber....................? Não lhe direi.................... . (por que /
porque / por quê / porquê)
f) Resta ainda descobrir o....................dessas
declarações. É difícil entender....................ele teria dito aquilo. (por
que / por quê / porque / porquê)
g)....................está seu
orgulho? (onde / aonde)
h) Irei....................você
quiser que eu vá. (onde / aonde)
i) Não gosto muito
dela,....................tenho que admitir que é....................inteligente
do que eu supunha. (mas / mais)
j)
Comportou-se....................durante a reunião. Não creio que seja um
....................sujeito, porém. (mal / mau)
l) Às vezes, penso que o
....................anda vencendo o bem de goleada neste nosso mundo. Isso é
tão.................... ! (mal /; mau)
m).................... –humorados
de todo o mundo, uni-vos! (mal / mau)
n) Deixe-me
....................de tudo o que estiver acontecendo. (a par / ao par)
o) Várias pessoas expuseram
opiniões que vieram ..................................................minhas
durante o debate, o que muito me animou. ( ao encontro das / de encontro às)
p) Muitas pessoas têm opiniões
que vêm ..................................................às minhas, o que não
chega a me desanimar. (ao encontro das / de encontro às)
q) ....................anos não
nos vemos. E só poderei reencontrá-lo daqui ....................dois meses! (há
/ a)
r) Dali ....................três
meses, eu mudaria de vida. (há / a)
s) Nada sei ....................das
manifestações que ocorreram no país ....................de dois anos. (acerca /
há cerca)
t) Já que temos ideias
.................... , deveríamos trabalhar juntos ....................de
conseguir melhores resultados. (afins / a fim)
u) Não há nada
....................em gostar ....................de doces. (de mais / demais)
v) ....................se fizer
alguma coisa, o país escorregará para o caos. E ainda há quem não faça nada
....................perseguir privilégios. (se não / senão)
x)
..................................................que caminhávamos, podíamos
perceber a mudança da paisagem. (à medida que / na medida em que)
z) O time melhorará....................sejam
contratados novos jogadores. (à media que / na medida em que).
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FONTES:
36 LIÇÕES DE GRAMÁTICA – Ulisses Infante
GRAMÁTICA DA LÍNGUA
PORTUGUESA – Pasquale & Ulisses
12 de novembro de 2016 – Sorocaba – SP.
muito bom, muito bom mesmo
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