sábado, 25 de fevereiro de 2017



POESIA E PROSA

Leia os textos a seguir:

Texto 1

        A caça predatória interrompe o ciclo vital de muitas espécies; por isso, é proibido comprar, bem como caçar, machucar ou aprisionar espécimes da fauna silvestre em todo o território nacional. É ilegal ter um animal silvestre como animal de estimação.

(Vários autores, terra o coração ainda bate. Porto Alegre, Tchê, 1990. P. 66-67).

Texto 2

Falta a ele: não espaços
Nem horizontes nem casas:
Sobra-lhe uma roupa enjeitada
Que lhe decepa as asas.

O pássaro preso é um pássaro
Recortado em seu domínio:
Não é dono de onde mora,
Nem mora onde é inquilino.

(CACASO, Beijo na boca e outros poemas. São Paulo, Brasiliense, 1985. P. 127).

        No texto 1, as linhas ocupam toda a extensão horizontal da página (linhas contínuas), excetuando as margens convencionais. O texto divide-se em blocos chamados parágrafos. Esse tipo de texto está escrito em prosa, ou seja, é uma linguagem direta, usual, o veículo de comunicação do pensamento. Na prosa, predomina a denotação (linguagem objetiva).
        No texto 2, as linhas ocupam toda a extensão horizontal da página. O texto divide-se em blocos chamados estrofes. Cada linha do poema é denominada verso. Esse tipo de texto está escrito em versos, ou seja, uma linguagem subjetiva que apresenta certo ritmo. Na poesia, predomina a conotação (linguagem subjetiva, figurada).

Observação:

        O texto 2 é um poema, portanto escrito em versos, com uma criação rítmica e melódica, de conteúdo emotivo e lírico. É possível haver poesia tanto no texto escrito em versos quanto no texto escrito em prosa. Quando ocorre a segunda possibilidade, dá-se o poema em prosa ou prosa poética. Geralmente haverá prosa poética quando ocorrerem as seguintes características: conteúdo lírico ou emotivo, recriação lírica da realidade, utilização artística do poético, linguagem conotativa.

ELEMENTOS DE VERSIFICAÇÃO

Verso: é a unidade rítmica de um poema (cada linha da estrofe é um verso). No texto 2, por exemplo, há quatro versos na primeira estrofe e quatro versos na segunda estrofe.

Estrofe: é o agrupamento de versos. No texto 2, por exemplo, há duas estrofes (dois agrupamentos de versos). Quanto ao número de versos, as estrofes podem ser chamadas de: monóstico (um verso); dístico (dois versos); terceto (três versos); quadra ou quarteto (quatro versos); quintilha (cinco versos); sextilha (seis versos); sétima (sete versos); oitava (oito versos); nona (nove versos); décima (dez versos).

Poema: é o agrupamento de estrofes ou versos. Obs.: podemos ter poema com apenas uma estrofe.

Rima: é a semelhança de sons no final ou no interior dos versos. Os versos sem rima são chamados de brancos ou soltos, muito usados pelos poetas modernistas.

Estribilho: é um verso que se repete no fim das estrofes ou uma estrofe que se repete no poema.

Recitação: é a leitura dos versos em voz alta. Para uma boa recitação, são necessárias as seguintes características: gesticulação adequada, sem exageros; expressão fisionômica de acordo com o conteúdo da leitura; pronúncia das palavras conforme o ritmo do poema.

Ritmo: é a sucessão alternada de sons tônicos (fortes) e átonos (fracos), repetidos com intervalos regulares, para uma cadência agradável.

Versos livres: são aqueles que não seguem as regras de versificação tradicional, como número de sílabas e a distribuição de acentos, isto é, distribuição de sons fortes e fracos.

SONETO

Leia o poema a seguir:

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se em vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida.

(Luís Vaz de Camões)

Observação: termos arcaicos utilizados: assi: assim; Pera: por.

        No poema de Luís Vaz de Camões, escritor do Classicismo português, podemos verificar que: na primeira estrofe, há quatro versos; na segunda estrofe, há quatro versos; na terceira estrofe, há três versos; na quarta estrofe, há três versos. Portanto, podemos dizer que o poema possui dois quartetos e dois tercetos, num total de catorze versos decassílabos. Essa forma fixa de poema foi trazida da Itália para Portugal por Sá de Miranda (1481-1588) e é chamada de medida nova ou SONETO.

O soneto ficou conhecido como medida nova porque antes os poemas eram escritos em cinco ou sete sílabas, chamadas redondilhas. Os versos de cinco sílabas são chamados de redondilha menor e os versos de sete sílabas são chamados de redondilha maior.

        A contagem de sílabas poéticas é diferente da contagem gramatical que conhecemos. As sílabas poéticas ou métricas são contadas conforme as pronunciamos. Além disso, é importante observar que a contagem termina na sílaba tônica da última palavra do verso.

Veja

“Se/te a/nos /de /pas/tor/ Ja/cob/ ser/vi/a.” (dez sílabas poéticas) verso decassílabo.

“La/bão, /pai/de/ Ra/quel,/ ser/ra/na/ be/la.” (dez sílabas poéticas) verso decassílabo.

(Camões)


“Meu/ gri/to/ de/ mor/te,
Guer/rei/ros/ ou/vi.”

(Gonçalves Dias)

(Versos pentassílabos – redondilha menor)

“Vou/-me em/bo/ra/  pra/ Pa/sár/ga/da
Lá/ sou/ a/mi/go /do/ rei.”

(Manuel Bandeira)

(Versos heptassílabos – redondilha maior)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.